'Estava com a perna em carne viva', diz amigo de mulher arrastada no Rio
Cláudia da Silva Ferreira foi baleada no Morro da Congonha, em Madureira.
Policiais a colocaram no porta-malas da viatura para levá-la ao hospital.
O jornal Extra publicou nesta segunda (17) o vídeo feito por um cinegragista amador que mostra a mulher sendo arrastada por cerca de 250 metros. Cláudia da Silva Ferreira teria ficado pendurada no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa.
“Minha filha contou que ela ia comprar R$ 3 de pão e R$ 3 de mortadela, mas não deu tempo de chegar”, disse o marido de Cláudia, que preferiu não se identificar por questões de segurança.
Cláudia Silva Ferreira está sendo velada no
Cemitério de Irajá, no Subúrbio do Rio
(Foto: Mariucha Machado/G1)
Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, era mãe de quatro filhos e criava
quatro sobrinhos. O velório está sendo realizado nesta segunda-feira no
Cemitério de Irajá, no Subúrbio. O enterro está previsto para as 13h.Cemitério de Irajá, no Subúrbio do Rio
(Foto: Mariucha Machado/G1)
'Interromperam o sonho dela', diz marido
Segundo a PM, os policiais faziam uma operação na comunidade. Houve troca de tiros com traficantes e a auxiliar de serviços gerais foi baleada. Logo depois, os moradores revoltados protestaram contra a ação da polícia. Dois ônibus foram queimados.
Eles bloquearam a Avenida Ministro Edgar Romero, uma das principais de Madureira. Segundo os moradores, Cláudia foi baleada no peito e na cabeça pelos policiais do 9º BPM, que subiram o morro atirando.
“Os policiais chegaram de manhã e já chegaram atirando nem mandou nada, chegeram atirando e os tiros cairam todos em cima dela. As pessoas gritaram: é mulher, trabalhadora, moradora e eles continuaram atirando”, afirmou uma moradora.
Amigos de Cláudia reclamaram que os PMs demoraram a socorrê-la. Para eles, a vítima não foi socorrida imediatamente após ser atingida: o socorro só teria sido prestado depois que um traficante foi alvejado.
“No ato em que socorreram, ela não estava com a perna ferida quando ela foi colocada no carro da PM, mas quando chegou ao hospital ela estava coma perna direita em carne viva, a gente entende que ela foi arrastada em algum lugar, que não foi lá, que não tem marca de sangue pelo chão, mas a perna dela está na carne viva. Não deixaram que ninguém acompanhasse, muito mal informaram para onde estava levando ela”, disse um amigo da vítima.
Desolado, o marido de Cláudia lamentou o fato de a mulher não ter conseguido realizar seus sonhos. “Extrovertida, guerreira para caramba, determinada no que queria. Infelizmente, o sonho dela não vai poder ser realizado agora, íamos tentar eu vou fazer isso, modificar a casa para ela, que ela não conseguiu, não que ela não conseguiu, interromperam o sonho dela”, afirmou.
Resposta da PM
Em nota, a PM contou que Cláudia da Silva Ferreira teria sido colocada no porta-malas do carro e no caminho do hospital a porta se abriu e foi neste momento em que parte do corpo da moradora acabou sendo arrastado pela rua e provocando mais ferimentos. O comando da PM afirmou que este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação que é a preservação da vida e da dignidade humana.
A Policia Militar informou ainda que os policiais encontraram Cláudia já baleada no alto do morro.
Ela ainda foi levada para o Hospital Estadual Carlos Chagas, mas não resistiu.
Segundo a PM, na operação em Madureira, um traficante foi morto e outro foi ferido e preso. Os policiais apreenderam quatro pistolas, rádios e drogas na comunidade. A Policia Civil vai investigar de onde partiram os tiros.
Para a família, a dor se mistura à indignação. “A sensação é que no morro, na favela só mora bandido, marginal; inseguança, somos tratados como animais”, diz um amigo de Cláudia.
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