Rodas de samba, sol e exercícios para emagrecer.

 

Como vivem os ministros que deixaram o governo

Apesar de aproveitarem mais o tempo livre, eles mantêm a influência política
Gustavo Gantois, do R7, em Brasília
Antonio Palocci

Primeiro ministro a cair, Antonio Palocci era próximo a Dilma e ainda hoje é
interlocutor frequente do ex-presidente Lula

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Na noite de 17 de novembro, pouco
mais de três meses após sair do governo,
 o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim participou de um jantar em São Paulo.
À mesa estavam personagens como o ex-presidente do Bradesco, Márcio Cypriano,
e o empresário Marcos Molina, dono do frigorífico Marfrig. O assunto era a
série de demissões no governo da presidente Dilma Rousseff e Jobim, rindo, provocou.

- Eu sou inocente.
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Com a frase, Jobim deixava claro: foi o único que não saiu da Esplanada dos
Ministérios sob uma avalanche de denúncias. Tanto que hoje transita com
desenvoltura entre políticos graduados e é presença constante em encontros
 promovidos pelo vice-presidente Michel Temer.

A “inocência” de Jobim também é bem vista por grandes clientes que o
querem como advogado. Ainda em novembro, no auge da disputa entre o
grupo francês Casino e o Pão de Açúcar pelo controle da operação brasileira,
Jobim recebeu um convite dos franceses para integrar seu time de advogados
na briga contra Abílio Diniz. Declinou. Ele tem preferido fazer consultorias e pareceres.

Destino diferente tiveram os outros demitidos. Toda vez que um ministro deixa o
cargo, o Código de Ética Pública exige um período de quarentena de quatro
meses para que eles possam voltar a exercer alguma outra função. Alguns
respeitam, mas outros continuam desempenhando cargos públicos.

Esse é o caso de Alfredo Nascimento. Ex-ministro dos Transportes, ele
reassumiu o mandato de senador pelo Amazonas (PR) e também voltou a ser presidente da legenda, cargo que era exercido interinamente pelo deputado Valdemar Costa Neto (SP).

Nascimento já consumiu R$ 48.044,28 em verba indenizatória desde que voltou a
ocupar a cadeira de senador. É dinheiro que utilizou para custear passagens aéreas
entre Brasília e Manaus e para manter o escritório político que possui na capital amazonense.
De acordo com o site do Senado, Alfredo
Nascimento não apresentou nenhum projeto de lei desde que deixou de ser ministro. Seus pronunciamentos na tribuna da Casa, cinco no total, foram sobre sua renúncia ao ministério,
sobre a postura de independência do PR
ao governo Dilma, pelo aniversário da Rede
Amazônica de Rádio e Televisão, sobre a crise na segurança pública de Manaus e uma
homenagem ao aniversário da cidade.
Nessa ordem.

Nascimento tem mostrado predileção mesmo é pela articulação da volta do
PR à Esplanada dos Ministérios. Sem um cargo de grande visibilidade desde
que a pasta foi parar nas mãos do atual ministro, Paulo Sérgio Passos, o partido
aguarda a reforma ministerial que deverá ser promovida em janeiro para tentar
colocar alguém da confiança de Nascimento no governo.

Enquanto isso, a Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal investiga
as denúncias de superfaturamento em contratos de construção e manutenção de
rodovias federais tocadas pela pasta e por estatais, como o Dnit e a Valec. Nascimento,
por sua vez, aguarda o resultado do julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
que pode decidir pela cassação de seu mandato, acusado de irregularidades
cometidas em sua campanha nas eleições de 2006.

Ausente

Pedro Novais, ex-ministro do Turismo, é outro que circula pelo Congresso
Nacional desde que saiu da Esplanada. Avesso a qualquer aparição, nega
pedidos de entrevista e desconversa sobre o período no ministério mesmo sendo
o único ex-ministro abalado por escândalos de corrupção que não tem qualquer
investigação diretamente associada a ele ou sua atuação na pasta.

Novais tem sido mais comedido nos gastos. Desde setembro, sua cota parlamentar
consumiu R$ 11.536,68 – declarados na página da Câmara dos Deputados.
Assim como o ex-colega Nascimento, também não apresentou qualquer projeto.

O retorno para Novais tem sido duro, se comparado aos tempos de ministro
de Dilma Rousseff. Até para fazer parte dos debates na Câmara ele teve de
contar com a ajuda dos colegas, que cederam uma vaga na Comissão de
Finanças e Tributação, a única da qual participa no momento. E das sete
sessões da comissão, faltou a quatro.

Sossego

Outros dois ex-ministros envolvidos em problemas com Justiça parecem também
dividir a predileção pelo descanso. Orlando Silva, ex-Esporte, contratou o advogado
Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, para cuidar de sua defesa.
Enquanto Kakay se movimenta pelos tribunais, Orlando tem promovido rodas de
samba em sua casa, em São Paulo.

É pela capital paulista que também trabalha para se eleger vereador pelo PCdoB e,
por tabela, colocar Netinho de Paula na cadeira de prefeito. Para isso, o partido já o
convocou para liderar um movimento que pretende dobrar o número de filiados à legenda.

Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura, é outro que trocou o planalto pela planície,
mas não anda tão contente quanto o ex-colega do Esporte. Amigos dizem que ele
ainda está muito magoado com a imprensa pela divulgação das denúncias que o derrubaram.

Para a Polícia Federal, ele é considerado“líder de uma organização criminosa”.
Até por isso, tem se dedicado cada vez mais às suas fazendas em Ribeirão
Preto e aproveitado para tomar sol vez ou outra em praias no litoral paulista.

Consultoria

Antonio Palocci, em sua segunda passagem pelo governo, refez o caminho natural
de quase todos os ex-ministros em cargos estratégicos: virou, mais uma vez, consultor.
A Projeto, empresa que foi responsável pelas denúncias de enriquecimento
que levaram à sua demissão, mudou seu objeto social e abrigou dois novos sócios:
um sobrinho de Palocci e um economista.

Assim como nos tempos de chefe da Casa Civil (e, anteriormente, de ministro da
Fazenda de Lula), Palocci continua com sua agenda lotada de encontros com
grandes empresários e industriais. A rigor, a Projeto virou uma “consultoria
empresarial e financeira”, nada diferente dos serviços que já prestava anteriormente.

Vinte quilos mais magro que na época em que estava no governo, Palocci tem
se exercitado a pedido da mulher, Margareth. Costuma encontrar expoentes do PT,
mas tem evitado a ligação partidária como forma de abafar o fogo amigo. Seu
interlocutor preferido continua sendo o ex-presidente Lula, a quem foi visitar no
hospital Sírio Libanês a pedido do próprio. Sinal de que pode ter perdido o cargo, mas não a influência.


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